18 de jan. de 2010

RIO PINHEIROS



O Rio Pinheiros foi chamado nos tempos coloniais de Jurubatuba ( lugar com muitas palmeiras jerivás ou tardo e sujo). Rio cheio de volteios e curvas, nascia do encontro do Rio Guarapiranga com o Rio Grande, e desaguava no Rio Tietê.
À margem direita de suas águas, os jesuítas criaram, em 1560, um aldeamento indígena de nome Pinheiros, denominação esta em virtude da grande quantidade de araucárias ou pinheiros-do-paraná que cobriam a região. Depois disso, o rio também passou a ser chamado de Pinheiros. O principal caminho que dava acesso à aldeia era o Caminho de Pinheiros(atualmente rua da Consolação).
As margens do Rio Pinheiros começaram, pouco a pouco, a ser ocupadas. Novas pontes possibilitavam a travessia do rio.

Mapa do Rio Pinheiros, trecho baseado em mapa de 1897 e, no detalhe, trecho atual retificado (ilustração digital). Crédito: Luiz Fernando Martini

Às margens de um dos seus afluentes, num sítio chamado Virapoeira, instalou-se em 1607 um engenho de ferro que produziu, durante 22 anos, ferramentas como pregos, enxadas, foices, instrumentos agrícolas e náuticos, além de artigos para capturar índios.
O bandeirante Paes Leme tornou-se proprietário de terras na margem direita do Pinheiros. Além dele, o sertanista Afonso Sardinha, proprietário de terras no Jaraguá, também possuía terras no atual bairro do Butantã. Bento Amaral e Silva era proprietário da Fazenda Emboaçava, onde construiu o Forte Emboaçava para proteger a vila dos ataques indígenas.
Quando o viajante Auguste de Saint-Hilaire visitou São Paulo, por volta de 1820, passou por Pinheiros. Observou ele que os índios haviam sido expropriados de suas terras. A população da aldeia foi, afirmou, "várias vezes renovada e algumas vezes foi aniquilada".



Confluência dos Rios Pinheiros e Tietê, c. 1929. Crédito: Anônimo

No início do século XX, a paisagem em torno do rio começa a transformar-se em função das novas levas de imigrantes, principalmente italianos e, mais tarde, japoneses, e migrantes que vieram se instalar às margens do rio.
A partir de 1940, foram iniciadas as obras de retificação do Rio Pinheiros. Pretendia-se acabar com as enchentes, canalizar as águas e direcioná-las para o reservatório Billings. Com isso, foram criadas condições para a instalação da Usina Henry Borden de geração de energia elétrica.
A paisagem e a geografia do Rio Pinheiros transformaram-se radicalmente. As pesquisas do arquiteto e professor Paulo Renato Mesquita Pellegrino demonstram que a retificação, a canalização e, posteriormente, a construção de vias expressas de tráfego isolaram o Rio Pinheiros do convívio com a população, antes mesmo de suas águas estarem contaminadas pela poluição. Os moradores de São Paulo, portanto, não se identificam com o rio que se estende quase sem vida na calha delimitada pelas avenidas. Ou melhor: preferem até ignorá-lo.
Atualmente, o Rio Pinheiros recebe efluentes de 290 indústrias e dejetos de 400 mil famílias. Obras governamentais continuam a prometer a despoluição do rio e a volta de alguns tipos de peixes e plantas em suas águas.

DEPOIMENTO DE UM MORADOR RIBEIRINHO
No depoimento de um filho de imigrantes italianos, Orlando Manso, nascido no ano de 1919, percebemos como era diferente a relação dos moradores de São Paulo com o Rio Pinheiros:
"Todo mundo que morava na beira do rio tinha um barco. Mas eu não tinha não. A gente andava no barco do pai de um amigo meu. A gente subia o rio, passava pela avenida Cidade Jardim, e chegava lá perto de Santo Amaro. Depois dali já era mais difícil, porque tinha muita pedra e muita curva, e umas cachoeirinhas… O rio às vezes ficava quase seco, e se formavam aquelas passagens estreitas, a água correndo com muita força. Então, pra ir mais adiante, a gente precisava descer do barco e arrastá-lo por uma corda, com todos empurrando, até passar aquelas corredeiras bravas. Mas pra voltar era bom, e a gente vinha em cima do barco. A gente chegou a ir de barco até onde o Pinheiros cruza com o Tietê. Onde hoje é o mercado Eldorado, o rio fazia uma curva. E ia paralelo à Rua Iguatemi, que hoje, é a avenida Brigadeiro Faria Lima. […]

Do lado do rio era barranco. O rio era fundo, uns três ou quatro metros até chegar na água. De cima do barranco é que a gente pescava. A gente ia até Jaguaré… Não sei os nomes daquela época, porque era tudo mato. Onde hoje é a ponte da Cidade Universitária a gente também pulava e nadava. A água era boa. Não lembro a profundidade, mas encobria a gente. E, nas cheias, chegava a quatro, cinco metros. […]

O rio era ora estreito, ora largo. A paisagem nas laterais era barranco e mato, só mato. Do lado de lá do rio, tinha muita casa. Cada um tinha a sua chacrinha, a sua hortinha. Mas, do lado de cá, enchia tudo. Então começaram a surgir os leiteiros".
Fontes:
www.museudacidade.sp.gov.br/imagem-imagens3.p.
pt.wikiprdia.org
www.aprenda450anos.com.br/
Formatação e pesquisa: HRubiales