9 de jul. de 2010

Memória vem à tona na USP nos 75 anos da Revolução Constitucionalista

Nessa segunda-feira (9) celebra-se os 75 anos do início da Revolução Constitucionalista de 1932, quando houve embate entre forças paulistas e federais devido à reivindicação de São Paulo para que o governo de Getúlio Vargas adotasse uma constituição. Passados três quartos de século, a Escola Politécnica (Poli) da USP e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apresentam-se como importantes centros históricos: além de possuírem arquivo de documentos e objetos da época, foram atores significativos no desencadear dos fatos. O IPT, à época, era parte da Poli - denominado Laboratório de Estudos de Materiais (LEM) - e foi colocado à disposição da Força Pública, as tropas paulistas que enfrentaram as federais.

A Poli e o LEM participaram da Revolução produzindo e controlando a produção dos armamentos das tropas de São Paulo. Produzir armamentos foi uma solução à impossibilidade de importar, afirma Zilda Iokoi, professora do departamento de história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela conta que os paulistas estavam isolados fisicamente (por conta das frentes de luta ao norte, ao sul e ao leste do Estado) e politicamente (outros estados não aderiram à luta), levando as diversas indústrias do Estado a se adaptarem para produzir material bélico.

“A Poli projetava as armas e verificava a produção para garantir a qualidade e segurança dos materiais”, explica Miguel Seguel, engenheiro aposentado que, durante a revolução, foi responsável direto pelo controle de qualidade das munições produzidas em de São Paulo. Ele explica que as principais contribuições da Poli foram a produção das granadas de mão (fundidas em indústrias e montadas no LEM), os ensaios com blindagem para trens e a verificação das munições.

O conflito
Para Zilda Iokoi, a Revolução de 1932 representa um conflito entre o poder local e o Estado Nacional Brasileiro. “Foi a expressão dos civis que queriam retomar o poder, sob justificativa de que o Brasil não podia prosseguir sem uma Constituição”, diz, explicando que a Revolução de 1930 revogava a constituição de 1891, a primeira do Brasil republicano.
Vargas instaurou um governo autoritário, submetido aos interesses do tenentismo - movimento militar que contestava o poder das oligarquias no início do século XX. “A burguesia liberal iniciou a guerra civil contra essa situação”, conclui a docente.

Apesar do poder econômico, os paulistas sabiam que tinham poucas chances de vitória. Miguel Seguel, hoje com 98 anos, lembra o despreparo das tropas: “havia muitos jovens, crianças na frente de batalha. Os engenheiros precisavam ir para o front ensinar como usar os armamentos e acabavam se machucando e morrendo”. Para Seguel, a Revolução foi um grande erro. "Havia mais interesses particulares de forçar um levante contra Getúlio do que ideais políticos”, diz o engenheiro, lembrando-se que a elite que mantinha o poder com a política do "café-com-leite" ainda se ressentia com o golpe que levou Getúlio Vargas à presidência em 1930.








Galeria de imagens

Fotos: Marcos Santos
 Fonte:www4.usp.br/index.php/especiais/13703




A

Derrota e vitória
No dia 2 de outubro, confirmou-se a derrota militar paulista. Sem apoio de outros estados, isolado militar e economicamente, não havia como São Paulo prosseguir com a luta armada. Apesar da perda nas armas, os dividendos para São Paulo foram positivos: “a vitória política é evidente”, afirma Zilda. Para ela, a Revolução garantiu que a Constituinte de 1934 acontecesse e conseguiu a nomeação de Armando Salles de Oliveira, um dos articuladores do movimento, como interventor de São Paulo.

Vargas continuou no poder até 1945. “Ele era interessante para a burguesia: tinha discurso liberal e atitudes autoritárias”, diz Zilda. A professora exemplifica essa política citando o tratamento dado por GV a dois setores que incomodavam a burguesia: o proletariado e os militares de esquerda. “O primeiro, Getúlio desmobilizou, desmontando os sindicatos combativos. O segundo, reprimiu com violência”.

“A Constituição de 1934 marca o drama de nossa política", afirma a professora. Para ela, a contradição entre discurso liberal e práticas autoritárias que se estabeleceu ali faz-se presente em todos os momentos da história do país. “Por exemplo: a ditadura se dizia democrática, com congresso aberto. Mas tinha a Lei de Segurança Nacional, censura e etc. Hoje, há dfiscurso da inclusão social, mas a marginalização dos pobres está presente”, afirma.

Fonte:www4.usp.br/index.php/especiais/13703
Formatação e pesquisa: Helio Rubiales